quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CineMaterna - Entre filmes e fraldas

IRENE RUBERTI

O ar condicionado da sala de cinema não é tão gelado, o volume do som fica um pouco mais baixo e algumas luzes permanecem acesas durante o filme. As adaptações são necessárias porque na platéia há espectadores muito especiais: bebês de até 18 meses que acompanham suas mães às sessões do CineMaterna. Cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas já adotaram a iniciativa, que permite às mães assistir a filmes em cartaz com seus bebês no colo. Até o fim deste ano a novidade deve chegar a Brasília e Porto Alegre. Em Salvador já estará disponível em agosto.

O CineMaterna surgiu no ano passado, quando um grupo de mulheres começou a discutir, em um fórum na internet sobre assuntos relacionados à maternidade, como fazia falta ir ao cinema no período pós-parto. Elas combinaram de ir a uma sessão pouco movimentada com seus filhos e logo ganharam novas adeptas e a simpatia dos exibidores.

“O principal propósito é permitir a reintegração da mãe, ir ao cinema acaba sendo uma boa desculpa para retomar o convívio com outras pessoas e sair de casa”, conta Irene Nagashima, fundadora do CineMaterna. Uma das sessões mais tradicionais do grupo acontece no Espaço Unibanco da Rua Augusta, em São Paulo, nas tardes de terça-feira. Depois do filme, as mães se reúnem para tomar café e bater papo. “Nessas conversas as mulheres aproveitam para trocar experiências e podem falar sobre maternidade à vontade.”

A maioria dos bebês aproveita para mamar e tirar um cochilo enquanto suas mães estão de olho na tela. Mesmo assim, o CineMaterna divulga algumas “normas de etiqueta” para garantir que todos aproveitem bem a diversão: sair com o bebê da sala se ele estiver muito agitado, levar brinquedos sem luz e sem som e só tirar fotos de recordação durante o filme se for sem flash. O limite de 18 meses foi estipulado porque a partir dessa idade a criança já começa a falar e andar pela sala, tirando a concentração das mães da tela, e também já passa a compreender mais o contexto do filme.

As salas de cinema têm trocadores com forro descartável, lenços umedecidos e fraldas. Atendentes estão sempre por perto para auxiliar as mães. Na entrada da sala, elas ajudam a “estacionar” os carrinhos dos bebês.

De janeiro a junho deste ano as sessões do CineMaterna receberam cerca de 3 mil espectadores. Pais, avós e amigos também são bem-vindos. “Esta é uma iniciativa ótima para as mães, que ficam encarregadas dos cuidados com os bebês e precisam de um pouco de lazer”, afirma o músico Felipe Roseno, que foi com a mulher, a atriz Mel Lisboa, e o filho Bernardo, de 6 meses, assistir ao filme Tinha que Ser Você. “Nós já viemos outras vezes, mas hoje temos a companhia do pai”, disse Mel.



O site (www.cinematerna.org.br) tem 3 mil usuários cadastrados, que podem participar da escolha dos filmes a serem exibidos. As sessões CineMaterna acontecem em São Paulo, todas as terças no Espaço Unibanco Augusta, quinzenalmente às quintas no Cinemark Market Place, e aos sábados no Frei Caneca Unibanco Arteplex. No Rio de Janeiro, todas as quintas no Unibanco Arteplex Botafogo, e em Campinas (SP), às terças no Cinemark do Shopping Iguatemi, a cada duas semanas.



Com apenas 3 meses de idade, Guido Tomazoni já foi ao cinema três vezes com sua mãe, a atriz Fafi Prado. “É um luxo poder assistir a um filme no cinema com o bebê, achei essa iniciativa ótima”, diz Fafi. Ela conta que o passeio foi indicado pelo pediatra do menino, como forma de ganhar mais confiança na rotina de cuidados com o bebê. “É preciso desmistificar certas questões da maternidade. É um mito que os bebês não podem sair de casa ainda pequenos.”



O pediatra de Sofia, de apenas 40 dias, também liberou o passeio. “Estava sentindo falta de vir ao cinema e uma amiga que já frequenta o CineMaterna recomendou”, conta a sua mãe, a advogada Andrea Salviatti, que estava pela primeira vez assistindo a uma das sessões especiais. O CineMaterna já recebeu um bebê de apenas seis dias de vida.



Estímulos

Algumas mães ficam receosas de expor seus recém-nascidos às luzes e aos sons de uma sala de cinema. O pediatra José Wilson Trida, no entanto, explica que não há motivo para preocupação. “Para a criança é como uma festa de aniversário”, compara. “Ela pode ter um pouco de dificuldade para dormir depois, porque seu sistema nervoso é mais sensível, mas não é nada preocupante.”

A bancária Amanda Toledo Lucrédio conta que sua filha, Giovanna, de 3 meses, ficou muito curiosa quando o filme começou, mas depois “ficou quietinha”.Pela segunda vez no CineMaterna, ela aprovou a iniciativa. “Gostei muito dessa oportunidade de ter um entrosamento com outras mães”, comentou. Mesma opinião da agente de turismo Sharon Werblowsky. “A gente vem para ver o filme e também encontrar as outras mães.”

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